sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Religião e o mundo moderno



Minha sugestão é que leiam antes o artigo já postado: Qual a relação entre a religião e os negócios públicos? 

 Este trecho é tão bom, que resolvi, ao invés de adapta-lo, transcreve-lo inteiro. Boa leitura!

Por Arcebispo Fulton Sheen


"O que se dá no mundo moderno é apenas uma repetição do que aconteceu no começo da era cristã. A princípio o Filho de Deus é ignorado como um estranho no mundo, para depois ser perseguido. A princípio Ele foi considerado como um estranho no mundo que veio para salvar: " Ele veio para os seus, mas os seus não O receberam". Ele não foi abertamente rejeitado; foi apenas ignorado. Não houve violência alguma contra Ele quando sua Mãe batia de porta em porta pela cidade de Belém. Simplesmente " não havia lugar"


Afinal de contas, que relação teria a religião e a economia, e que relação teria Deus com o mundo? Os homens estavam então,demasiadamente ocupados com seus cofres,com suas contas e com seus impostos para se incomodarem com o Criador,exatamente como agora estão ocupados demais com seus negócios e suas dissensões políticas. Ele pode vir ao mundo se quiser,mas que Ele próprio encontre lugar para si. Aqui não há lugar.

A fim de melhor dar a entender que o homem havia rejeitado seu Criador, Ele é expulso da cidade para os montes, para longe das estalagens, para os estábulos lá fora, dentre os homens para o meio dos animais. E quando se deita um olhar nessa criança,que foi alijada da terra que criara, e literalmente expulsa para fora da cidade de seus pais, deitada num leito de palha entre um boi e um burro,não se podia deixar de ver nesses animais o símbolo da rejeição humana. " Não havia lugar na estalagem" 


Assim como Cristo, a religião foi primeiro ignorada, depois perseguida.A indiferença à Religião é o começo do ódio à religião. Assim se deu com Cristo. Em Seu nascimento dos homens não lhe deram atenção, simplesmente batiam as portas no rosto de Sua Mãe. Dentro de dois anos estarão eles perseguindo-o como a um criminoso. Primeiro mostram-se indiferentes ao lugar em que Ele nasceu; agora, intolerantes só porque nasceu. Antes, apenas não O queriam em suas estalagens, agora não O querem no mundo. Primeiro Ele é tão estranho às suas vidas que O deixam co os seus inofensivos animais; agora Ele é considerado inimigo de suas vidas e mais perigoso do que feras.

Nem mesmo querem O deixar em seus estábulos, tal qual a Rússia não O quer deixar em seus tabernáculos. Parte de Herodes a ordem de que toda criança do sexo masculino abaixo de dois anos de idade deve ser morta. Nenhum rei poderá ser soberano se este novo Rei Infante também pretender a realeza. Herodes não poderá possuir inteiramente o homem se esta Criança se intitular Rei do homem. Aquele que primeiro desprezou a Criança agora teme a Criança. A caverna do pastor torna-se agora o antro do bandido, enquanto Herodes despacha seus soldados, que se lançam como falcões em perseguição de um Infante que mal aprendeu a andar,

A irreligião apoderou-se de lugar deixado pela religião; a perseguição seguiu-se à indiferença; a assassínio dos inocentes veio na esteira do nascimento do Inocente. A indiferença ao Cristo não termina e nem pode terminar na ausência do Cristo; acaba no Anticristo.

Foi assim no começo; é assim agora, e será assim até o fim. ensinaram a Europa a cerrar o punho e a cuspir sempre que Seu nome é ouvido; não O podem deixar só. Eles não são precisamente homens sem religião; são homens contra a religião; não mostram frieza para com Deus. entregam-se ao ateísmo com todo o ardor.

Donde tiram eles energia para esse ódio? Donde tal entusiasmo pelo ateísmo? Como conseguem tal apostolado pelo Anticristo, tantas espadas para a pilhagem das coisas de Deus e assassínio das mulheres de Deus? Donde tirou a Rússia esse ímpeto para implantar em Valência, pela primeira vez na história do mundo ocidental, um regime declaradamente contra Deus? Tirou-o da realidade de Deus. Os homens não se entusiasmam por fantasmas. Os homens não saem a campo para dar combate às ficções da imaginação nem a mortos. Odeiam, entretanto, os vivos. Rejeitando-O, estão eles prestando-Lhe testemunho. Ninguém odeia César, Napoleão ou Genghis Khan. E por que não? Porque morre o ódio quando perece o objeto odiado. Os homens já não cerram mais os punhos contra um Bismarck, nem montam mais guarda ao túmulo de um Nélson. Mas cerram ainda os punhos contra o Cristo. Dizem que Ele está morto, mas põem sentinelas em Seu túmulo. Dizem que Ele é inofensivo enquanto criança, contudo Herodes manda os seus soldados matar a Criança indefesa. A verdade é que eles odeiam porque creem - não com a fé dos redimidos, mas com a fé dos condenados.

O que é de notar é que exatamente nas nações em que Ele tem sido mais rejeitado, maior tenha sido a derrota do homem. Na mesma proporção em que Ele é perseguido, persegue-se o homem; quando o mundo rejeita aquele que enalteceu o valor do homem, começa este a perder todo o valor. No momento em que o mundo perde aquele que amou o homem a ponto de morrer por Ele, o próprio homem deixa de ter qualquer valor; no instante em que ele esquece o preço outrora pago por uma alma humana, a alma começa a ser instrumento do Estado.

Esta derrota do homem na Rússia, na Alemanha, no México e até certo ponto na Itália, onde o homem não tem direito algum, senão aquele que o Estado lhe concede, torna-se tanto mais flagrante quando ocorre numa época em que o homem tem tudo o que pode conduzir ao sucesso na vida. Nunca dantes o homem tanto poder,  e nunca dantes foi tal poder acumulado assim a destruição da vida humana; nunca dantes esteve tão defendida a educação e nunca dantes esteve mais longe do conhecimento da Verdade; nunca dantes houve tanta riqueza e nunca dantes tanta pobreza; nunca dantes tivemos tanta abundância de alimentos e nunca dantes tantos homens famintos.

O homem vê-se cercado de luxos e comodidades com que as gerações precedentes nunca sonharam, todavia  nunca seus esforços foram tão frustrados, nunca se sentiu tão miserável e intranquilo diante do futuro. Tem tudo, e todavia nada tem, porque esqueceu uma coisa - seu próprio mérito, seu próprio valor intrínseco, seu próprio alto destino.  Somente Alguém que pagou o preço pode dizer-lhe quanto ele vale. Tendo perdido a etiqueta do preço da Redenção, marcada "Valor infinito", fácil é que os ditadores pensem não ter ele nenhum valor, julguem que ele  é simplesmente uma gota de sangue na corrente da raça, um soldado a mais no exército, um dente a mais nas rodas de engrenagem no Grande Trator Proletário.

É preciso que o homem seja redescoberto, não o homem animal que tanto conhecemos, mas o homem racional que conhecemos tão pouco. Essa redescoberta está condicionada ao conhecimento d'Aquele a cuja imagem e semelhança foi o homem criado, pois só quando reconhecemos os direitos de Deus é que o homem começa a ser livre"

Fonte: O Preço da Liberdade - Fulton Sheen

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