segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Vida que herdamos


Viveremos uma só vida e ela é um dom que recebemos do Criador. Se há alguma coisa que tem valor neste mundo, esta é a vida que herdamos e Deus deseja que a vivamos bem, sabendo o por que termos sido feitos e qual nosso destino neste mundo.

Ora, de que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? "De que serve um cofre cheio se a consciência está vazia?" nos pergunta Santo Agostinho. - (Serm 72,6)

Tudo em nós, clama pela intimidade com Deus, tudo em nós clama pela santidade, pelo crescimento, pela elevação, porque nos diz o Catecismo: " O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso:

«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador" (Catecismo da Igreja católica)

Ao longo de nossa caminhada neste mundo, vamos aos poucos percebendo que o exterior, que os bens, que nossa energia - que vai sendo consumida -, são passageiros e que nada que venha de fora poderá satisfazer a sede que temos do eterno, do duradouro, do santo. A vida anseia por instinto, pela eternidade e nada nos repugna tanto quanto a decadência.

"Temos demasiada necessidade de imortalidade, para que nosso destino esteja naquilo que fenece. E, uma vez que a vida exterior termina irrevogavelmente em um abismo, os anseios que, em nós, entoam seu refrão de eternidade, indicam que somos portadores de um germe de infinito. Como esse germe nos encontra, nas condições exteriores, nada que seja estável e imperecível, isso nos conduz, pela própria força de nossos mais profundos instintos vitais, a buscar no interior sua expansão. E aqui há o perigo de nos enganarmos" - François de Sales Pollien - A vida interior

Escutemos o que nos diz São Paulo:

"Porque Deus que disse: Das trevas brilhe a luz, é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós. Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo"(2Cor 4,6-10)

"Mas sabemos, continua ele -, que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus e nos fará comparecer diante dele convosco. E tudo isso se faz por vossa causa, para que a graça se torne copiosa entre muitos e redunde o sentimento de gratidão, para glória de Deus. É por isso que não desfalecemos. Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia. A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem . Pois as coisas que se vêem são temporais e as que não se vêem são eternas".(2Cor 4,14-17)

"Sabemos, com efeito, que ao se desfazer a tenda que habitamos neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus e não por mãos humanas, uma habitação eterna no céu. E por isto suspiramos e anelamos ser sobrevestidos da nossa habitação celeste, contanto que sejamos achados vestidos e não despidos. Pois, enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos com uma veste nova por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela vida. Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que nos deu por penhor o seu Espírito. Por isso, estamos sempre cheios de confiança. Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor. Andamos na fé e não na visão. Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor. É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe. Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo" (2 Cor 5,1-10)

Eis portanto a verdadeira vida, plena de imortalidade (cf Sab 3,4) que se desenvolve interiormente, em meio a tudo e apesar de tudo. É a vida que vence a luta entre o espírito e a carne, que se serve de todas as coisas, mesmo as corporais, para a exaltação da alma em Deus. É a vida superior, que se eleva acima de tudo, mesmo dos desastres da natureza; que determina a elevação do que há de mais nobre em nós e nos consome no Ser supremo.

A vida plena é aquela em que a alma busca a unidade sobre o fundamento que é Cristo, como nos mostra ainda São Paulo:

"Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo. Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós"(1Cor 3,10-17)

Infelizmente somos ainda crianças, mergulhados nos sentidos e na sensibilidade, e tendemos a reduzir nossa visão e nossos sentimentos religiosos, ao sentimentalismo e à rotina de um culto infantilizado. Eis-nos, portanto, obrigados a voltar às noções elementares da palavra de Deus. Não podemos nos elevar imediatamente à estatura de Cristo, às sublimidades da Encarnação, que é o grande mistério de Cristo e de nós nEle. Por isso é preciso começar a entender o caminho e o conhecimento de Deus na humildade, buscando sempre os fundamentos de nosso relacionamento correto com Deus e com seu Cristo, conosco mesmos, com nossos semelhantes e com todas as coisas criadas. É isto que veremos depois.

Baseado no livro: A Vida Interior de François de Sales Pollien

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