sexta-feira, 18 de maio de 2012

O mundo moderno e as falsas liberdades

   Por Arcebispo Fulton Sheen


1 -  Os direitos da religião


2 - A Religião do Mundo Moderno

Adaptação do Livro: O problema da Liberdade

Nossa geração está assistindo, quer o saiba ou não, ao ocaso e à aurora de dois conceitos radicalmente falsos de liberdade: uma liberdade de indiferença, que dá ao indivíduo o direito de ignorar a sociedade, ignorar a verdade, a moralidade e a justiça, dando ao indivíduo o direito  de dizer, fazer ou pensar o que bem lhe aprouver, fazendo dele uma autoridade suprema. E uma liberdade de necessidade, que dá ao Estado o direito de ignorar o indivíduo absorvendo-o na raça ou na classe e destruindo a liberdade de escolha.Nesta liberdade, o homem é livre a partir do momento que obedece determinadas leis, quando ele sabendo o que tem de fazer, o faz. Este é o caminho aberto para os ditadores, já que para eles, o homem é livre enquanto obedecer à sua vontade, que geralmente diz ele, se identificar com o bem comum.

A primeira espécie de liberdade resulta em licença  e a segunda atira-nos na escravidão, a primeira era indiferente à verdade, a segunda promete a riqueza social à custa da liberdade da pessoa humana; a primeira esquece a sociedade e o outro; a segunda esquece o homem.  A liberdade de indiferença é o pecado de um liberalismo agonizante, a liberdade de necessidade é o pecado do nascente absolutismo do Estado.

A liberdade de indiferença operava na sociedade de modo muito semelhante ao da bomba colocada debaixo de uma casa.Uma vez que se desse a explosão, todos os tijolos, vigas, vidros, todas as tábuas ficavam livres de fazer o que desejassem sem nenhuma preocupação com o bem estar da própria casa.

A liberdade de necessidade, ao contrário, atua na sociedade como uma prensa de lagar. Cada cacho de uva da vinha, quando atirado na tina com milhares de outros cachos, perde sua própria identidade; sua existência tornou-se agora inseparável do vinho.

No primeiro caso, se arruinava a sociedade ao definir a liberdade individual que ignorava o bem social; no de necessidade se arruína a humanidade ao definir a liberdade como a necessidade que dá ao ditador o direito de usurpar toda a personalidade do homem, de modo que ele não ouse pensar, querer ou sentir separado da massa, da classe ou da raça a que pertence.

Leão XIII já nos advertiu a respeito das consequências dos falsos conceitos de liberdade: " A verdadeira liberdade da sociedade humana não consiste em cada qual fazer o que bem desejar, pois isso acabaria simplesmente em distúrbio e confusão, e acarretaria a ruína do Estado.... De igual modo a liberdade não consiste no poder daqueles que, autoridades, ditam desarrazoadas e caprichosas ordens a seus súditos, que seria igualmente criminoso e levaria à ruína da coisa pública ( Libertas Praestantissimum)

Nos diz Fulton Sheen: " Esses dois falsos conceitos de liberdade desempenharam um papel na morte de Jesus Cristo. É quase certo dizer que Ele foi crucificado em nome da falsa liberdade. A liberdade de indiferença ou o espírito de tolerância crucificou-O no individualismo de Pilatos. A liberdade de necessidade ou a nova intolerância crucificou-O em nome das massas. Depois de uma noite inteira de padecimentos, aquela noite em que, flagelado com os olhos vendados, lhe põem na cabeça uma ridícula coroa de espinhos e Lhe dão o caniço como cetro, Jesus Cristo foi levado a Pilatos. Respondendo a uma pergunta, Nosso Senhor diz a Pilatos que o Seu reino não é deste mundo e a seguir acrescenta: ' Para este fim nasci e para este fim vim ao mundo - para trazer testemunho da verdade' (S. João, XVIII, 37).

Havia muito que Pilatos renunciara à crença na Verdade e bondade absoluta; o que para os homens era verdade ou erro, para ele não passava de um ponto de vista. Verdade universalmente aceita não existia, e para melhor afirmar sua crença na relatividade da verdade, de modo zombeteiro pergunta: Que é a verdade? e voltas as costas à Verdade sem esperar pela resposta.

Numa hora a indiferença de Pilatos teve seu natural desfecho quando mandou que trouxessem o Cristo e Barrabás a seu ensolarado pórtico e disse à população que escolhesse entre os dois.  Aqui chega o falso espírito de tolerância à sua última e lógica consequência: indiferença ao Cristo e a Barrabás, à verdade e ao erro, à virtude e ao vício. Naquele dia, foi crucificada a Verdade, por conta de uma falsa liberdade - a da indiferença.

Parta-se do falso pressuposto de que a democracia significa liberdade de ser indiferente à verdade e à virtude, e a democracia acabará, como naquele dia crucificando a ambas.

As massas nem sempre escolhem com acerto; a verdade não é o que a maioria quer. Liberdade não significa direito de preferir o sedicioso ao salvador, ou de ser tolerante a ponto de  pregar a Justiça numa árvore. Uma vez que essa falsa liberdade meça as consequências de sua indiferença, procura logo lavar as mãos do sangue culpado, tal como Pilatos, naquele dia que após lava-las gritou: "Estou inocente do sangue deste homem" -  Mas a água não lava a nódoa deste crime.

Mal podia Pilatos acreditar no que ouvia quando lhe pediram que soltasse Barrabás, e enquanto os gritos do povo atroavam contra a balaustrada da mármore de sua fortaleza, fez uma outra pergunta: "Que devo fazer com o vosso Rei, o Cristo? "- Responderam-lhe: "Se soltares este Homem não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei é inimigo de César"(S. João XIX,12)

Chegara a vez de a nova liberdade de necessidade e a nova intolerância mandaram-no matar. A liberdade de indiferença realizara a sua tarefa como a maioria que vota pela morte da verdade; a liberdade de necessidade tem ainda sua nojenta tarefa a realizar. Na prática, significa isso que não há nenhum Deus acima de César, nenhum direito acima do governo, nenhuma liberdade de palavra acima do régulo. Significava exatamente isso na Sexta feira da Paixão, quando o povo apelava para seu ditador, a quem odiava mais que as serpentes, e protestava seu amor por César contra Cristo.

"Se o Cristo não quiser obedecer a César e renunciar ao absurdo de dizer: 'Dai a César o que é de César  e a Deus o que é de Deus', então entreguem-O à morte. César é o único rei; o ditador é a única lei; o partido é o único governo. Até mesmo os direitos de Deus emanam de César. Ou faze-lO submeter-se ou manda-lO para a Cruz". Pois, liberdade, pensavam eles, é obediência à vontade do ditador.

E para a Cruz foi Ele, crucificado pela corrompida liberdade do liberalismo, que é indiferente à verdade, e pela desmoralizada liberdade da ditadura que identifica a Verdade com César.

Fonte: O Problema da Liberdade.

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