quarta-feira, 30 de maio de 2012

O uso das criaturas


Adaptação do livro: A Vida Interior - de François de Sales Pollien

Veja os primeiros estudos AQUI

As criaturas

Acabamos de ver as minhas relações com Deus: sua glória,como fim essencial; minha felicidade nEle como fim anexo a este. Se para com Deus devo uma subordinação total, como deve ser minha relação para com as criaturas, por Ele criadas?

Devo saber que a existência que Deus me deu, não a posso conservar por mim mesmo. Vindo do nada, nele recaio por meu próprio peso. Somente Deus tem a vida em si mesmo. Meu corpo e nem minha alma possuem em si próprios os meios de sua subsistência; devem procura-los fora de si e busca-los nas outras criaturas, colocadas ao meu dispor com essa finalidade.

Por criatura e criação, devemos entender tudo aquilo que afora Deus, tem existência e atividade; todas as coisas naturais e sobrenaturais, naquilo que fazem e naquilo que são. Céu e terra, anjos e homens, Igreja e sociedade, graças e sacramentos, animais e plantas, etc, etc. O uso de cada uma destas criaturas deve servir em prol da vida e para a vida. Portanto, a criação sempre servirá de instrumento de vida para mim e para os outros, nenhum contato com eles pode ou deve ter outra finalidade que não seja contribuir para o crescimento da vida. Tudo foi feito para a vida, nada para a morte, que só existe em consequência do pecado. E também eu, criatura entre as criaturas, devo ser instrumento de vida para outros, assim como outros o são para mim.

Modo de utilização


Se as criaturas são apenas instrumentos, devo utiliza-las para o trabalho a que se destinam, nada mais. A faca serve para cortar, os óculos para enxergar, etc. Nenhuma pessoa sensata emprega os instrumentos para uso da qual eles não foram feitos, somente as crianças e os loucos privados de razão, poderão se divertir com instrumentos com uso ridículos ou perigosos.

Para Deus


Toda criação serve em minha vida, portanto, para a glória de Deus, à qual está ligada a minha felicidade. Tudo o que  falo, penso, faço, uso, deve necessariamente ser feito para glorificar a Deus e tudo deve ser usado conforme o desígnio do Criador. Deus se serve da criação para isso e me concede aquilo que deseja confiar à minha utilização. Se minha vida estivesse plenamente de acordo com o plano divino, nada a atingiria, e ela mesma nada faria que não  produzisse, como no céu, uma nota de concerto sagrado.

Para mim


Além de glorificar a Deus o correto uso das criaturas, Deus quis atrelar a ele, a minha felicidade, por isso, me fez participante de seus bens eternos. Toda criatura proclama, em primeiro lugar: " Glória a Deus!" e em seguida: " Paz ao seu servo!" (Sl 34,27). E assim eu me torno sócia de Deus, tendo parte nos benefícios da imensa obra da criação.

Que digo eu? Tenho parte nos benefícios? Tenho TODOS os benefícios, pois como diz São Francisco de Sales:" a partilha que a bondade divina faz conosco consiste em deixar-nos o fruto de seus benefícios, reservando para si a honra e o louvor"( Tratado do Amor de Deus 1.IV,c.6)

 " Ele não necessita que sejamos seus servos, diz Santo Agostinho -, mas nós necessitamos que Ele seja Nosso Senhor, para agir em nós e nos possuir. Por isso também é Ele o único e verdadeiro Senhor e Mestre: porque o servimos sem utilidade para Ele, toda utilidade retorna para nós e contribui para nossa salvação. Se Ele precisasse de nós, já não seria plenamente Senhor, pois estaria preso a uma necessidade que caberia a nós socorrer" ( De doctr.Christ, 1.8.24)

Na terra e no céu


Deus quer que eu cresça neste mundo, que aumente em mim a capacidade de glorifica-Lo na eternidade; e as criaturas tem a função de me proporcionar este crescimento. Ora, cada progresso é para mim uma fonte de gozo; pois o ser se regozija na medida em que se completa. Cada criatura completando meu ser para Deus e segundo Deus, me traz também uma parcela de felicidade, de satisfação e de repouso para meus anseios.

Mas embora as criaturas colaboram com a alegria verdadeira em minha vida, estas alegrias não pertencem a elas, e sim a Deus e ao meu crescimento nEle, e são somente parciais, porque meu crescimento divino se faz em partes.

Um dia virá, porém, a grande alegria, a felicidade eterna para a qual me prepara o trabalho que esses instrumentos de Deus realizam em mim. As criaturas me trazem ,portanto, um pouco da verdadeira felicidade neste mundo, enquanto me preparam o gozo infinito da salvação eterna.

Oh! bondade de Deus, quem me dera conhecer-Vos! Oh! Amor, quem me dera amar-Vos!

Depois veremos: As satisfações criadas.

Fonte: A vida interior - de François Sales Pollien

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